Por meio do Espírito Santo realiza-se a restauração do paraíso, a subida ao reino dos céus, o retorno à adoção filial. É ele quem nos dá a ousadia de chamar a Deus de Pai, possibilita-nos participar da graça de Cristo, ter o nome de filhos da luz, partilhar da glória eterna, em uma palavra, recebermos a plenitude da benção, neste século e no século futuro, e como em espelho contemplar, desde já presente, a graça dos bens que nos estão reservados, conforme as promessas, e cuja fruição aguardamos pela fé. Se porém as arras são tais, o que será o dom completo? E se as primícias são tão grandes, que será a plenitude integral? Assim se torna cognoscível a diferença entre a graça do Espírito e o batismo na água. Pois João batizou na água; nosso Senhor Jesus Cristo batizou no Espírito Santo. “Eu vos batizo com água para a conversão [arrependimento], mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem ao menos de carregar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11) João, aqui, à prova do juízo dá o nome de batismo com fogo, conforme também diz o Apóstolo: “O fogo provará o que vale a obra de cada um”, e ainda: “O dia a tornará conhecida, pois ele se manifestará pelo fogo” (1 Cor 3,13). Mas, houve alguns que, combatendo em prol da piedade, em todo o realismo e não apenas em imitação, suportaram a morte por Cristo. Eles não precisaram, para se salvar, do símbolo da água, uma vez que foram batizados no seu próprio sangue. Não falo desta maneira para excluir o batismo na água, mas a fim de derrubar os raciocínios desses homens exaltados que se opõem ao Espírito, misturam, e igualam outras que não são comparáveis entre si.
Tratado sobre o Espírito Santo, 15, 36. – Tradução: Monjas Beneditinas do Mosteiro Maria Mãe de Cristo de Caxambu [MG] Coleção Patrística, volume 14, São Paulo: Paulus,1999, p.130
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