De nobre família romana , nasceu em Trévires. Aos 31 anos era, em Milão, governador das províncias da Emília e da Ligúria. Na vacância da sede episcopal da cidade, foi eleito bispo (pelo povo) embora ainda fosse apenas catecúmeno [novo convertido]. Recebeu então em breve prazo o batismo, a ordenação e a sagração episcopal. Sob a direção do sacerdote Simpliciano, adquiriu boa cultura teológica e leu os principais autores gregos, sobretudo Orígenes e são Basílio [de Cesareia] - cujos escritos eram famosos. Conselheiro de vários imperadores, foi também quem batizou santo Agostinho, para cuja conversão contribuíra. (Morte aproximadamente: 397)
GOMES, Cirilo Folch Antologia dos Santos Padres, São Paulo: Paulinas, 1973- p.228)
LIVRO I
Se o
mais alto grau das virtudes é o que tem por fim o proveito da
maioria, a moderação é com certeza a mais bela de todas; ela nem
mesmo ofende aqueles que condena, e costuma tornar dignos de
absolvição aqueles que teria condenado. Enfim, ela é a única que
há de propagar a Igreja adquirida pelo sangue do Senhor (cf. Atos
20,28); é a imagem do benefício celeste e da redenção de todos;
não ultrapassa o sensato limite que os ouvidos humanos podem
suportar, que os espíritos não recusam e as almas não temem.
Com
efeito, quem se esforça para corrigir os vícios da fraqueza humana,
deve suportar a própria fraqueza sobre seus ombros, sentir-lhe de
certa forma o peso, e não rejeitá-la. Pois se lê que aquele pastor
do evangelho carregou a ovelha (cf. Lc 15,5) fatigada, não a
abandonou, e Salomão diz: “Não queiras ser justo em excesso”
(Eclesiastes 7,17). Assim, a moderação deve temperar a justiça;
pois como pode apresentar-se a ti para ser curado alguém que te
cause fastio, alguém que pense que será para seu médico objeto de
desprezo e não de compaixão?
Por
isso o Senhor Jesus sofreu conosco para chamar-nos a si, não para
afastar-nos de si. Veio manso, veio humilde (cf.Mt 11,29); ele diz,
enfim: “Vinde a mim todos vós que estais fatigados, e eu vos
reconfortarei” (Mt 11,28). Portanto, o Senhor Jesus reconfortou,
não excluiu nem rejeitou; e com razão escolheu discípulos tais
que, intépretes da vontade do Senhor, reunissem o povo de Deus – e
não o repudiassem.
(Ambrósio
de Milão/[introdução e notas explicativas Roque Frangiotti;
tradução Célia Mariana Franchi Fernandes da Silva] – São Paulo:
Paulus, 1996, pp.103,104)
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